«A Princesa e o Emir»

Escrito em 19 de maio de 2023

«A Princesa e o Emir»

A PRINCESA E O EMIR

DE MARIA CRISTINA SOUSA

 

AMOR E PAIXÃO NO GHARB AL ANDALUZ

Este romance é uma fantasia histórica inspirada no poema de Almeida Garrett, Dona Branca, que introduziu o Romantismo em Portugal.

 

Excerto da obra:

«A infanta acordou a tremer. Tinha tido alguma febre durante a noite. O jovem muçulmano tinha feito uso dos seus conhecimentos de medicina e usado umas ervas que trazia consigo, esmagando-as na água que trazia dentro de uma cabaça, dando-a depois de beber à jovem. Tinha passado a noite a velá-la. Branca não conseguiu abrir os olhos, a cabeça pesava-lhe e doía-lhe horrivelmente. Instintivamente levou uma das mãos à testa mas reparou que teve dificuldade em libertá-la pois estava envolvida numa enorme capa espessa e escura. Tentou sentar-se mas não conseguiu. Não sabia onde se encontrava. Olhou à sua volta mas na penumbra que a rodeava não conseguiu vislumbrar quase nada. Conseguiu distinguir uma pequena fogueira e ouviu um relinchar de um cavalo mesmo ao seu lado e de repente lembrou-se do que tinha acontecido. Lembrou-se de tudo. As imagens desfilaram perante os seus olhos e a sua mente, uma após outra, nítidas, com uma precisão incrível. Conseguiu recordar-se de todos os pormenores. Do percurso na floresta na companhia das monjas enfermeiras e dos frades mendicantes, da tempestade que acabou por os surpreender e do galope infernal do seu cavalo floresta adentro, rumo ao desconhecido.
Foi então que o viu. Um vulto masculino, de pé, não muito longe dela. O homem era alto e forte, de ombros largos e cabelos escuros que lhe caíam até aos ombros. Um enorme turbante negro bordado a pedras preciosas que reluziam à luz das chamas da pequena fogueira, envolvia-lhe a cabeça. Uma longa capa escura, toda ela debruada a prata, caía-lhe dos ombros até aos tornozelos. Branca não teve qualquer dúvida. Apesar de muitíssimo bem-parecido, aquele era mouro infiel. Conseguia ver que tinha barba escura e cabelos negros ondulados. Tinha todo o aspeto dos muçulmanos que o rei seu pai combatia há décadas. Mas não era um simples soldado. Aquele homem exibia uma riqueza extrema de potentado. Talvez um general. A infanta estremeceu de medo. Manteve-se imóvel. Quase nem se atrevia a respirar. Como tinha ido ali parar? Como era possível estar ali na companhia de um infiel?»