Entrevista a Joana Caetano Gomes, autora do livro «Mundos de Diana - Vol. I»

Escrito em 18 de Dezembro de 2023

Joana Catarina Caetano Gomes nasceu em Braga, mas também passou parte da adolescência em lugares como Santarém, Lisboa, Penacova e Frankfurt.
Tendo a escrita sido a sua primeira brincadeira, guarda imensos cadernos com histórias desde sempre ditadas ou escritas por ela.
Aos 17 anos, publicou o seu primeiro livro, intitulado “Sussurra-me Poesia”, também com capa e ilustrações da sua autoria. Desde então, levar as suas palavras a inspirar mais pessoas é o seu maior propósito. Adora escrever sobre temas que comovem e inquietam a geração de hoje.

A Intelectual esteve à conversa com o escritora e ficou a saber um pouco mais sobre o seu processo de escrita, as suas inspirações, temas e personagens desenvolvidos no livro «Mundos de Diana - Vol.I». 

 

 1. Como surgiu a ideia de escrever “Mundos de Diana”?

A ideia de escrever “Mundos de Diana” surgiu como qualquer flor: de uma pequena semente que não estava à espera de brotar e que, afinal, brotou. Numa manhã de setembro de 2020, tinha anotado num caderno a ideia para uma história sobre “uma miúda que regressa às aulas durante o corona”, tal como eu estava prestes a fazer. Queria deixar um pouco daquela época para a posteridade. Esta ideia divergiu de imediato para o que teria acontecido à Diana nos meses anteriores, correspondentes à primeira parte do livro (ou “primeira onda”). O título veio poucas semanas depois, ainda sem o significado tão vasto que pode ter hoje, e ao longo dos meses seguintes fui criando novos elementos, personagens e caminhos a seguir no livro, para além de transformar e descartar outros. O facto de ter sido esta a ideia que acabei por regar intensamente, em detrimento de outras que me poderiam ter surgido, levou-me a passar para a ação. Sabia que esta história precisava de ser concluída e publicada.

 

2. Em “Mundos de Diana” explora três mundos: o físico, o interior e o digital. Qual é o impacto do mundo digital sobre os outros dois e como foi transpor estes três mundos para a narrativa?

Todos os mundos têm impacto nos outros dois. Como revelo neste primeiro volume da obra, o mundo digital serve como uma ligação entre os mundos interior e físico, o que se tornou ainda mais notório na altura da pandemia, quando o nosso mundo físico estaria restringido. Porém, sinto que ele se veio a tornar num mundo cada vez mais à parte, como se o “barco” que o navega quisesse substituir o indivíduo do nosso mundo interior como a principal bússola da nossa vida. Estes três mundos fazem parte do dia-a-dia de todos nós como indivíduos, se bem que por ideias soltas, e eu acho que fui conseguindo arrumá-las de um certo modo que até se torna bastante visual (podiam ser arrumadas de infinitas formas, mas foi este o percurso que eu decidi seguir). Conectei os pontos e fui criando esta viagem na qual a Diana parte durante os meses da pandemia, tal como eu e tantas outras pessoas partiram na sua.

 

3. À medida que Diana enfrenta os seus próprios desafios, são ao mesmo tempo exploradas temáticas filosóficas e culturais. Como abordou a inclusão desses elementos na narrativa?

A inclusão de alguns desses elementos foi mais fácil do que algumas partes da narrativa, mesmo que a ideia para a narrativa tivesse vindo mais cedo. Ainda me acontece deparar com algo na realidade no qual nunca tinha reparado de uma certa forma e querer logo transportá-lo para a escrita.  “Bolas, já não posso adicionar isto no Mundos de Diana!”, penso, mas terei novas páginas para as quais o poderei fazer. As temáticas culturais advêm de curiosidades que eu, ou nalguns casos já a Diana, li e ouvi ao longo da escrita e inseri-as em espaços do livro que pareciam estar reservadas para elas. Cada livro que escrevo torna-se numa espécie de conversa. Concluí-lo (e nunca se conclui realmente a escrita de um livro, tal como a leitura) é saber que parte da minha voz pôde ser exteriorizada e que basta chegar o leitor para que ele se possa transformar no mais entusiasmante diálogo.

 

4. Considerando o cenário em constante mudança da sociedade contemporânea, quais desafios específicos das novas gerações selecionou para representar no livro? Como espera que a história de Diana possa oferecer insights ou apoio a jovens leitores que enfrentam esses mesmos desafios?

Acho que foi exatamente essa constante mudança que me levou a escrever sobre os jovens da atualidade. Torna-se mais difícil a total identificação com temas de coming-of-ages de décadas passadas, como o “The Perks of Being a Wallflower”, que tinha lido em janeiro de 2021. Não porque esses temas deixaram de fazer parte das vidas dos jovens de hoje, mas porque entretanto surgiram outros. Alguns deles prendem-se com a fugacidade com que cada um de nós passa na vida das pessoas que entram na nossa vida, o que nos leva a sentir deslocados, e com a sensação de não conseguirmos exteriorizar tanto daquilo que temos para dar. Destaco, também, os desafios da saúde mental, nomeadamente no que toca às expectativas em relação ao futuro. A designação de cada uma das partes do livro como “onda” veio de um jogo com o significado que essa palavra teve durante a pandemia (sinónimo de vaga) e aquilo que abala o nosso interior. Quanto ao apoio que o livro possa oferecer, posso dizer que escrever “Mundos de Diana” transformou imenso a minha perspetiva de vida, por mais surpreendente que isso possa parecer. Não imagino como teriam sido os meus últimos três anos, e todos os próximos, se não tivesse tido pelo menos as ideias que me levaram a escrevê-lo. É isso que eu espero que possa acontecer com os jovens leitores: que este livro os toque de qualquer maneira. Não importa qual. Porém, o meu objetivo é que não sejam só os jovens a ter insights com o livro, mas principalmente as gerações anteriores.

 

 

5. Para além do segundo volume de “Mundos de Diana”, que será lançado em 2024, que outros temas gostaria de explorar em futuros projetos literários?

Gostaria de me aventurar, e já comecei a fazê-lo, em projetos literários já mais “afastados de mim”. Acho que no primeiro romance é comum inserirmos personagens com uma idade, localização geográfica e hábitos mais semelhantes aos nossos, sendo que é à medida que vamos escrevendo mais e mais que começamos a explorar outras vidas. Mas, como é óbvio, sempre o farei com a minha identidade e as questões que eu vou colocando ao mundo. Explorar alternativas para uma sociedade futura, tendo em conta problemas do presente, como a crise climática, o uso de tecnologias e a solidão, principalmente, parece-me deveras fascinante.